quarta-feira, 14 de setembro de 2016

PAI NOSSO



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Pai nosso que estais nas flores, nos cantos dos pássaros, no coração a pulsar, que estais na compaixão, na caridade, na paciência e no gesto de perdão.
Pai nosso que estais em mim, que estais naquele que eu que amo, naquele que me fere, que busca a verdade.
Pai nosso que estás naquele que caminha comigo, naquele que partiu deixando minha alma ferida pela saudade.
Santificado seja o teu reino de paz e justiça, fé e caridade, luz e amor. Reino que sou convocado a construir através da mansidão de espírito, reflexo da grandeza interior.
Seja feita a tua vontade, ainda que minhas rogativas prezem mais meu orgulho do que as minhas necessidades.

Muitas vezes eu não compreenda mais que o silêncio, respostas às minhas preces, não compreenda mais que o silêncio, respostas às minhas preces, não te ouvindo assim dizer: filho aguarda, tua é toda a eternidade. 
O pão nosso de cada dia me dai hoje e que eu possa dividi-lo com meu irmão. As condições materiais que hora tenho de nada servem se não lembro de quem vive na aflição.
Pão do corpo, da alma que é vida, verdade e luz. Pão que vem trazer alento e alegrias, é o evangelho de Jesus.
Mais que falar, eu saiba ouvir. Ao invés de julgar, eu busque olência e semeia a paz.
Perdoa-me , assim como eu perdoei aqueles que me ofenderam, mesmo com o coração ferido pelas amarguras; Possa eu Senhor da vida lembrar de que nenhuma mágoa é eterna e que o único caminho que me torna sublime é a humildade.  
Livrai-me de todo mal , de toda violência, infortúnio e enfermidade que me tornam escravo de minha malevolência; estrada da reconciliação.
Não me deixeis cair nas tentações dos erros, vícios e egoísmo. Livrai-me das dores , mágoas e desilusões. Mesmo assim, se tais dificuldades se fizerem necessárias que eu tenha força e coragem de dizer: Obrigado Pai , por esta lição. Assim seja. Amém. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

BUDA E O GATO




Sidarta Gautama (o Buda) há muitos dias estava prostrado à sombra da grande figueira (Bodhi) sem comer nem beber. Seu corpo definhava enquanto sua mente se robustecia entregue ao profundo e sereno meditar. Mais do que nunca, ele buscava a compreensão do sentido da Vida.
De repente, Buda percebeu uma presença à sua frente. Sem abrir os olhos, ele divisou o gato imóvel que o fitava com vivo interesse. Nesta posição o animal permaneceu por alguns segundos. Depois, o felino emitiu seu suave e fraterno mantra de apresentação: Rooommmhhh... Rooommmhhh...

O diálogo


Sidarta Gautama: Você está perturbando minha tentativa íntima de expansão da consciência.

Gato: Engano seu. Eu faço parte do seu meditar.

Sidarta Gautama: Ora, você não passa de um gato. Como ousa interromper minha contemplação do Vazio?

Gato: Outro engano seu. Antes de ser um gato, o que não é pouca coisa, sou um arquétipo. Uma idéia poderosa que preenche e dá sentido ao Vazio. Há muitos outros semelhantes a mim no lugar que você atingiu agora com sua consciência.

Sidarta Gautama: Se é assim, por que você assumiu a forma de um gato?

Gato: Um gato é uma boa medida de evolução. Porém é certo que eu poderia ter escolhido também a aparência de qualquer outro ser. O que mais importa neste momento é apresentar-me num formato reconhecível por sua interface mental. Aquilo que faz você distinguir a "realidade". Acontece que você ainda está condicionada à Maya, a extensa ilusão do mundo físico. Depois, quando por fim ultrapassares esta fase, você poderá nos conhecer como jamais pensou ser possível. Então vai descobrir que eu, você e tudo mais que o cerca somos um só na mais recôndita essência.

budha
                                                De onde tudo parte e para onde tudo converge, lá somos unos.

 Sidarta Gautama: Se estou entendendo... Você é como um conhecimento armazenado no íntimo de todos nós, isso?

Gato: Muito bem... Sim, pertenço à imensurável e oculta biblioteca da Vida...

Sidarta Gautama: Por favor, explique-se melhor.

Gato: A natureza, toda vez que aprende, configura um arquétipo, o arquivo que conterá o conhecimento adquirido. Disso surgem as predisposições e a memória da Vida, pois basta ativar o que foi assimilado para reavivar a experiência em todo o seu teor. É devido a isso que os seres vivos nascem com uma programação prévia embutida. Porém não a confunda com destino... ou castigo inexorável. O entendimento é outro: você nunca se perguntou como pode, por exemplo, uma pequena aranha tecer sua teia complexa, mesmo sem nunca ter tido de sua mãe a instrução fabril de tamanha engenharia?

spider

                                                       A natureza sabe devido a Informação armazenada nela.


Sidarta Gautama: Um manual?... A natureza tem um grande manual que faz tudo funcionar a partir de suas instruções?

gato:

Um arquétipo é um aprendizado (ou impressão) fixado e também manifesto nas dimensões física e psíquica.

 Gato: Você avança rápido. Mas a natureza é mais que isso. Ela é um imenso processo dinâmico e em sincronia com todas as suas partes. Portanto, jamais estará concluída, como um sistema em constante aperfeiçoamento. Para quem a vê de fora sentencia: Evolução; para quem a compreende por dentro conclui: Aprendizado.

Sidarta Gautama: e como vocês, os arquétipos/arquivos, movimentam as engrenagens deste progresso perene?

Gato: Nós, os arquétipos, somos fundamentais ao esquema de desenvolvimento da natureza. Somos o lastro do seu progresso. E ela só pode avançar mediante aquisição de novos conhecimentos. Para tal necessita de memória (arquivamento) e de instrumentos adequados e distintos. Estes, que constituem a diversidade da vida em interação no planeta, lhes asseguram a captação de vivências na superfície. O âmbito em que ela manifesta o ensinamento implícito (arquétipos) através da conduta de todas as espécies. Pode-se dizer que é a informação instintiva aplicada ao comportamento dos seres. Em decorrência, tal fenômeno gera novos impulsos indutores de experiências que, por sua vez, vão alargar as fronteiras psicofísicas da própria natureza. A otimização resultante permite-lhe desenvolver habilidades através de um processo gradativo de capacitação e potencialização crescentes.

GATO

 Sidarta Gautama: deixe-me ver se entendi bem... Arquétipos, que são tanto programas quanto arquivos muito sutis, servem para promover e consolidar o saber que se origina da experiência dos seres vivos. A partir daí a Vida avançará para outro estágio de aprendizado, quando então os seres experimentarão novos desafios. Disso nascerá a experiência que, uma vez fixada pelas gerações seguintes, reverterá em arquétipo/programa/arquivo no âmago da natureza. Assim a Vida se transforma e se refina em ciclos cada vez mais abrangentes... E queres saber o que eu achei mais incrível? Ela faz isso através de nós! De seres aparentemente insignificantes, somos em verdade extensões muito sofisticadas do processo de aprimoramento da própria Vida! E o Karma, que não é destino nem castigo, constitui a informação armazenada que Ela, a Vida, manipula e transmite para agilizar e fazer elevar, cada vez mais, seu crescente grau de aperfeiçoamento!!


Neste instante, o gato perdeu suas formas e Sidarta teve sua mente ofuscada pela Iluminação que, subitamente, o arrebatou para outro nível de entendimento...

Do site:  http://www.hierophant.com.br/arcano/posts/view/Kamalaksi/665

domingo, 20 de março de 2016

DO ARCO DA VELHA- CONTO





Hoje, lido um texto budista sobre a conexão com o Sagrado pela Compaixão, abro  inevitavelmente as janelas das lembranças que, como chuva fina, lavam os vitrais das memórias:

 Era um menino grande, ombros largos, maior que todos da nossa idade. A voz grave saía sempre descontrolada como os passos ligeiros e fortes no assoalho da sala. Eu sentava na segunda fila, atrás da cabeleira de cachos escuros, achava que o muro alto e largo era um bom esconderijo. Ele, às vezes, virava-se repentinamente e entregava sua mão fechada sobre a carteira de madeira e deixava ali o que parecia uma pedrinha enrolada em papel branco: uma pequena bala de pontas contorcidas.

Nascemos para obedecer e caber nas caixinhas que estão prontas para nos receber. Deodato não cabia em nenhuma delas. Tinha dificuldade em riscar as curvas das letras, com regras de alinhamentos e condutas. Quase sempre era retirado da sala por derrubar cadernos e livros e não controlar as palavras que trovejavam no silêncio da classe. Hoje sei que aquela escola não o merecia, não estava preparada para ele, que era muito maior que tudo. Um desafio à Pedagogia rudimentar de um grupo escolar das terras de Minas.

Não sei exatamente o que houve, só me lembro de vê-lo a caminho da Diretoria com as calças molhadas, arrastando a pasta que deixava lápis e papéis pelo corredor. Foi seu último dia de aula, passou a estudar em casa com a mãe.

Ah, a mãe. Ela representava para mim, um livro de fábulas, uma rainha que guardava com todas as chaves uma mina de baús cheios de diamantes. Talvez porque a apontassem como feiticeira e louca. Ela criava gatos, dezenas deles.  Gatos sem donos, tortos, caolhos, gatos de rua. Havia os gatos de olhos azuis e pelos marrons, arrasadores e lindos, que piscavam duplamente e pareciam sorrir. Eu tinha uma visão parcial, da janela do quarto, pois tinha o privilégio de ser vizinha deles. 

 Um dia, minha mãe  disse:

  - Vá à casa ao lado e deixe o bolo, mas não entre. Volte da porta. Esta era uma missão que eu não saberia nomear. Calcei os chinelos e corri até lá. Ninguém nunca entrava na casa, eles não recebiam visitas. As pessoas no máximo deixavam a caixa com os gatos na porta, nada mais. Não entreguei o bolo. Assim que a criada abriu a porta, entrei apressadamente. Passei pela sala, atravessei a cozinha e cheguei ao quintal. Os gatos estavam lá espalhados na grama. Preguiçosos e gordos: brancos, pardos, negros, majestosos. Veio-me um sentimento de indagação: Por que o mundo jogava fora aqueles seres felinos, macios e tão belos ? Eram de uma mansidão ímpar, como um cobertor de veludo em noite de inverno. A mulher baixinha e gorda olhava espantada a invasão. Estendeu-me um gato pequeno, cinza e trêmulo, que parecia fugido da guerra. Acomodei-o na roda da saia e olhei aquele reino em volta. Era o mito da caverna desvendado mais uma vez. Não havia a velha bruxa dos gatos de rua e seu filho doido. Não havia o cheiro podre de fezes, pulgas e vírus no ar. Apenas uma casa grande e antiga, um quintal enorme, um leve soprar das folhas no jardim e um cheiro adocicado de ternura e compaixão. O menino estava lá, lia um livro aberto sobre a mesa.  Veio até mim e pousou sua mão sobre a minha. Recebi de sua mão úmida o pequeno papel retorcido de bala.  Estivera guardado todo o tempo.

Passamos a manter uma convivência clandestina. Quando a guardiã dos gatos abria o arco duplo dos portões da entrada da casa, abria sem saber o caminho do paraíso. Era um oásis de fontes cristalinas na aridez dos meus oito anos. Aprendi pela compaixão um amor que não sabia existir. Aprendi que os gatos amam incondicionalmente e como dizem isso com os olhos, com o rabo, com a curva das costas. Que ligam um pequeno motor quando tocam-nos o rosto, e jogam-se aos nossos pés sem reservas, barriga pra cima, nos dizendo: - eu confio.

 Aprendi a confiar no amor com aqueles gatos. Que nem tudo em que as pessoas acreditam é real e que a verdade é uma caixa que tem que ser aberta. As histórias ouvidas nas tardes, com sequilhos e suco de tangerina, transferiram para mim parte do tesouro daquela família.

 Um dia, a vida mudou-nos para outra cidade e não houve despedidas. Soube que a mulher continuou a cuidar dos gatos da cidade, mas, para todos, era a Velha dos gatos e seu filho doido: os estranhos que moravam depois da ponte do rio.  Aprendi que há sempre um ser abandonado nas ruas que tem sede e mais fome do que imaginamos. Nós não imaginamos a dor dos cães e gatos perdidos, e como seus corações batem descompassados de susto e medo no escuro da noite. Na verdade, não temos tempo para pensar nisso. Só seguimos ordinariamente em frente.

luisa ataíde




O CASACO DE PUPA, um conto de Elena Ferrandiz




Toda manhã a menina metia-se no casaco de medos que 

usava desde pequenina e que foi crescendo com ela. E saía 

pelas ruas, coberta de MEDOS.

MEDO da solidão.



MEDO que não a queiram.

MEDO que a queiram.


MEDO de voar.


MEDO de afogar-se.

MEDO de sentir-se perdida.


MEDO que tudo mude.


MEDO que tudo continue igual. Igual, igual, igual, igual...


MEDO do futuro.


MEDO de repetir o passado. Passado.


MEDO de não avançar.


MEDO de dar um passo.

MEDO dos outros


MEDO dela mesma.


O casaco ficou pesado demais e ela já não conseguia ir a 


lugar nenhum. Então, encheu-se de coragem e resolveu 


livrar-se dele!


E voou. 


"Aquilo que a lagarta chama de fim do mundo, o resto do mundo chama de borboleta" -
LAO TSÉ

http://elenaferrandiz.blogspot.com.br/


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