quarta-feira, 10 de agosto de 2011

UM QUINTAL

  

 Danuza Leão




Quando uma pessoa começa a melhorar de vida, pensa logo em comprar uma boa casa.

E o que é uma boa casa?

É preciso um jardim e uma piscina, imaginam os pais.

Eles querem para as crianças uma infância saudável, com confortos que
nunca tiveram, mas não pensam no principal: um quintal.

Um quintal não precisa ser grande, e o chão deve ser de terra batida.

Nele deve haver algumas árvores que não pareçam ter sido plantadas,
mas sempre existido.

Um abacateiro e uma goiabeira, de goiaba vermelha, são fundamentais.

No fundo, um galinheiro tosco, com uma porta quebrada, para que as
três ou quatro galinhas possam correr quando alguém quiser pegá-las.

Nenhum computador levará uma criança ao deslumbramento que ela terá ao
encontrar um ovo e segurá-lo, ainda quentinho.

É o mistério da vida nas mãos dela, mais absoluto e mais simples do
que qualquer livro de filosofia.

Um dia, a cozinheira avisa que vai matar uma galinha para o molho pardo.

Os meninos pedem para ver a cena trágica; a mãe não quer, mas a
empregada, acostumada, com o facão na mão, facilita.

Se a galinha tiver dentro da barriga aquele monte de ovinhos, aí a
lição de morte - e de vida - será ainda mais completa.

E mais lições serão aprendidas quando alguém sugerir fazer uma peteca
com as penas mais duras e algumas palhas de milho.

Mas será que alguém sabe do que estou falando?

Voltando: esse quintal deve ser meio abandonado, mas muito limpo; duas
vezes por dia a empregada, cantando bem alto, dá uma varrida. É
importante também que haja um tanque para lavar o pé de alguma criança
quando ela pisar descalça numa porcaria, e um varal com pregadores de
roupa de madeira.

Nesse lugar, não vai ter horta nem pomar organizado.

Em compensação, é bom que exista do outro lado do muro uma enorme
mangueira para que se possa praticar o melhor crime do mundo: roubar
as frutas do vizinho.

Nos fundos de um quintal, deve haver também uma touceira de bananeiras
ou bambus e, claro, um adulto dizendo sempre para tomar cuidado, pois
ali pode ter uma cobra.

Não há infância que se preze sem medo de cobra.

Quando as goiabas começam a crescer, fica todo mundo de olho até a
primeira delas estar no ponto para ser arrancada e mordida ali mesmo,
sem lavar.

E que sensação terrível quando se vê o bicho da goiaba se mexendo.

Aí, sem que ninguém precise dizer nada, você começa a aprender que a
vida é assim: ou se compra uma goiaba bonita, mas sem gosto, ou se
espera com paciência ela amadurecer no pé até desfrutar o supremo
prazer de dar aquela dentada - com direito a bicho e tudo.

Mas o tempo voa.

De repente você se sente só, abre o caderno de telefones e percebe sua
pouca afinidade com os nomes que estão lá, que tem vivido uma vida que
não tem nada a ver e começa a procurar um sentido para as coisas.

Não encontra resposta, claro, mas um dia está no trânsito, vê um
terreno baldio, se lembra daquele quintal no qual não pensa há anos e
percebe que essa é a lembrança mais importante e mais feliz de sua
vida.

E passa a olhar o mundo com a superioridade de quem tem um tesouro
guardado dentro do peito, mas ninguém sabe.



Gentilmente enviado por keila Abreu

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(sopro ao ouvido)



Nem tão nus viemos ao mundo
mas protegidos com a maior das armaduras
para o corpo e o espírito: a doçura.

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