sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A TRANSITORIEDADE DAS COISAS- ANA PELUSO


         Estranhamente assim, ela mudava seus gostos. De manhã preferia o rosa, à noite o vinho, e de madrugada ainda era possível gostar do lilás. Do roxo. A cor da morte. Do hematoma, da cura. Aos sábados ela sorria, mas nem sempre. Todo mundo à sua volta estava decantado. Era desnecessária. Trocou a cerveja pelo uísque num piscar de olhos. Em outros, os deixou pela soda com rodela de limão, mãos limpas, óculos assíduos. Era multiface. Era uma multidão. No entanto, o seu perfume era sempre o mesmo. Imã, magneto. Uma rodela de batata doce puxando toda a acidez do mundo do meio da sua cara. E ela mentia. Dizia estar tudo bem. Era por fora mais ela do que se fosse outro alguém. Qualquer outro. Desses que têm sempre a mesma opinião, e sempre se coçam do mesmo jeito.

 Ficou feia




         depois de roubar a beleza com a data de validade vencida
        que a amiga comprou no Wal-Mart.




          Efêmero como um passeio de carrossel no parque. Como o gosto do chocolate de maça-do-amor recheada. Como aroma que passa por lembrança. Como a tua visita sempre rápida. Como a troca dos olhares medrosos e o roçar das mãos ingênuas. Como um oi, às vezes, tão indeciso quanto um adeus.  Como a vida que não deixa rastro do azul que foi o céu, visto de baixo, um dia. Como qualquer coisa do mundo quando se está amando.



Publicado na revista - Fora de mim

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ONDE ESTÁS, CRIANÇA?




 LUIZ MARTINS DA SILVA
Para Alice, minha ex-criança


Oh! Minha saudosa criança;
Agora, que a distância
Já nos separa bem mais
Que a linha do horizonte...


Atende este apelo de pai,
Que no abalo se pergunta,
Onde estás que não te abraço,
Na franja de um iminente vendaval?


Amo e coleciono as intempéries
Que outrora nos impeliam um ao outro,
Quando ainda era teu o apelo de abrigo mútuo.


Oh! Minha criança remota,
Agora, que alçaste voo,
Eu é que em ti procuro de volta.


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