segunda-feira, 14 de setembro de 2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
CASARIOS E BEIRAIS
I
As casas, quando sem nós,
Nossa falta, ausentes botões.
Saudade, instinto incolor,
Sino tilinte ao rés do pulso.
II
Dói, para além do lado de dentro.
Um céu hermético, mas a ermo.
O morto, há dias fogo fátuo,
Cinzas aquém do rio sagrado.
III
Casas são bichos domésticos,
Vaga-lumes fora de estação.
Perdidos, grilos erráticos,
Memórias do medo no escuro.
IV
Por favor, donos, venham
Já, em perpétuo socorro.
Lares vazios, cães famintos.
Filme encenando masmorra.
V
Nem Casmurro foi tão só
Quanto uma casa esquecida.
Fechada, soleira muda.
Lacres sem luz não são.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
A SERRA DA ROLA-MOÇA
MARIO DE ANDRADE ( lembranças do grupo escolar)
A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...
Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.
A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...
Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.
Antes que chegasse a noite,
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus para todos
E puseram-se de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.
Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos,
Ele na frente ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.
A serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não,
As tribus rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões
Temendo a noite que vinha.
Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os rios também casavam
Com as risadas dos cascalhos
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam
Buscando o despenhadeiro.
Ah, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte.
Na altura tudo era paz...
Chicoteando o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro.
O noivo se despenhou.
E a serra da Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.
terça-feira, 10 de março de 2015
PASSAGENS
Luiz Martins da Silva
Desde esse lado de cá,
Manacá, aroma flor...
Tudo, ilusão, senão o amor
Até na matriz das ilusões,
Esta janela para o todo,
Faísca de ser na escuridão.
E o que será mais ilusório?
Água, flor, pântano, lótus...?
Ou o reflexo de tudo que é capaz
De inspirar e expirar momentos,
Enquanto contempla reflexos,
Fugaz auréola de espelhos?
Nem todos os budas do mundo
Hão de nos despertar da vaidade
De sermos o que nada somos.
Mas, se de repente, assustados
Em um abismo tão profundo,
Acordaríamos, de fato, do lado de Lá?
domingo, 22 de fevereiro de 2015
domingo, 11 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
ENTRE ASPAS
No topo das montanhas,
Nas imensas ondas do mar,
Nos longos cursos dos rios, na vasta extensão do oceano,
No movimento circular das estrelas, e passam por si mesmas sem se admirarem".
Santo Agostinho
Fotografia Hogan Waked
sábado, 3 de janeiro de 2015
PRIMEIRO DIA
Fernando Henrique de Passos
A luz ubíqua
O mar feito de luz
E as rochas, as pedras, as pessoas
E a poesia que nasce debaixo dos meus pés,
Matéria e Espírito:
Flocos de luz
Arrancados ao seio luminoso desta tarde
Beleza em fúria
A ânsia nos olhos e nas asas
Os pedaços de pão podre esfacelados
Pelos ávidos bicos das gaivotas.
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