sábado, 21 de janeiro de 2012

A NUVEM PRATEADA DAS PESSOAS GRAVES


 RUI COSTA

Nem sempre se deve desconfiar das pessoas

graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,

os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão depois.

Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho
 que é o que lhes fica por baixo dos pés e por isso do outro lado do mundo.

O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés 
e mais longe ainda das mãos que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado
 e os ossos se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é.

Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias

quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas

pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo que foram ou das pessoas que amaram.

Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no chão. A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, dessas pessoas, é, por isso, uma subtil forma de cuidado.

Um comentário:

  1. Um belíssimo poema de um grande poeta português, recentemente desaparecido... Uma grande perda para a Poesia.

    Belo abraço para si
    Jorge Vicente

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