Estranhamente assim, ela mudava seus gostos. De manhã preferia o rosa, à noite o vinho, e de madrugada ainda era possível gostar do lilás. Do roxo. A cor da morte. Do hematoma, da cura. Aos sábados ela sorria, mas nem sempre. Todo mundo à sua volta estava decantado. Era desnecessária. Trocou a cerveja pelo uísque num piscar de olhos. Em outros, os deixou pela soda com rodela de limão, mãos limpas, óculos assíduos. Era multiface. Era uma multidão. No entanto, o seu perfume era sempre o mesmo. Imã, magneto. Uma rodela de batata doce puxando toda a acidez do mundo do meio da sua cara. E ela mentia. Dizia estar tudo bem. Era por fora mais ela do que se fosse outro alguém. Qualquer outro. Desses que têm sempre a mesma opinião, e sempre se coçam do mesmo jeito.
Ficou feia
depois de roubar a beleza com a data de validade vencida
que a amiga comprou no Wal-Mart.
Efêmero como um passeio de carrossel no parque. Como o gosto do chocolate de maça-do-amor recheada. Como aroma que passa por lembrança. Como a tua visita sempre rápida. Como a troca dos olhares medrosos e o roçar das mãos ingênuas. Como um oi, às vezes, tão indeciso quanto um adeus. Como a vida que não deixa rastro do azul que foi o céu, visto de baixo, um dia. Como qualquer coisa do mundo quando se está amando.
Publicado na revista - Fora de mim
Publicado na revista - Fora de mim